quinta-feira, 16 de julho de 2009

paisagens artificiais

Desde que o ser humano, no sentido mais primitivo de sua existência, viu aquilo a sua volta e entendeu o que era a natureza, tudo que vemos e compreendemos constitui-se como paisagem. A partir desse momento, o ser humano, tomado pela imensidão da consciência daquilo que era o mundo a sua volta, viu-se nú e desprovido de tudo.

Fez então sonhos e imagens, dessas idéias, necessidades e delas construiu um mundo a partir da natureza. Teve de fazer tudo, pois entendeu que fora de si tudo havia de ser feito, ou modificado para lhe melhor servir. O arquiteto começa, onde deus termina.

Enquanto mamíferos, bípedes, terrestres, todo espaço que é resultado da transformação do humano, é criado a partir da abundância e escassez, necessidade e consumo. Num morro onde um dia havia uma arvore que foi podada, ou uma estrada por onde passar, sobre um rio que chega ate uma casa, numa vila, onde se faz presente o humano, toda paisagem torna-se artificial, toda a natureza do espaço é modificada.

A escala de transformação da natureza é tamanha que no inicio do século XXI vivemos uma nova era geológica no planeta. As cidades, sociedades inteiras construídas em uma noção artificial de espaço e modo de vida. Tudo o constitui paisagem nas cidades foi extraído, modificado, transportado e executado conforme imaginado. Um meio ambiente inteiramente artificial, produzido e arquitetado pela engenhosidade de um mamífero, bípede, terrestre e tornado possível uma complexa rede de exploração do trabalho e do lucro.

Paisagens Artificiais é um breve entendimento da presente história.

No século XXI entramos em uma era em que a medida do possível é financeira, pois quase tudo o que pode ser imaginado, pode ser construído. Porque pintar uma bela paisagem se é possível realizá-la de fato, com plantas reais. Porque fazer uma escultura abstracionista se é possível construir volumes habitáveis que sustentam-se por si próprios no espaço. Uma noção da realidade fundamentada em que é possível construir “tudo”, onde antes não havia “nada”.

Se a natureza não provê aquilo que queremos, então construímos.

Caso a natureza provenha aquilo que queremos, então consumimos.